A chave para que o setor agropecuário cresça sem expandir a área cultivada está na incorporação de tecnologia no campo, concordam especialistas durante o 4º Fórum Agronegócio Sustentável, promovido pela Folha nesta segunda-feira (28), com patrocínio da Mosaic Fertilizantes.
"Se podemos aumentar a produção por meio do rendimento, não precisamos expandir a área", explica José Otávio Menten, professor da Escola Superior de Agricultura da USP.
O ganho de produtividade tem se mostrado factível no Brasil há pelos menos seis décadas. De 1950 a 2015, o país assistiu a quase todas as culturas aumentarem de duas a quatro vezes sua produção em quilogramas por hectare.
O alcance da agricultura de alto rendimento esbarra, porém, na extensão rural —atividade que conecta os resultados de pesquisa à capacitação do produtor.
"É fundamental o investimento em pesquisa, mas também em um processo de transferência de tecnologia", pontua Vinicius Benites, da Embrapa. "Temos que encontrar uma fórmula para fazer com que o conhecimento gerado entre nas fazendas."
A área tem sofrido seguidos cortes. A projeção de verba em 2021 para a assistência técnica e extensão rural do Incra, por exemplo, foi reduzida a quase zero na proposta orçamentária enviada pelo governo ao Congresso.
O pesquisador explica que uma possibilidade ainda pouco explorada no país é a ocupação das pastagens degradadas, que poderiam ser incorporadas à produção de grãos. "Só o Brasil ainda tem área para expandir sem precisar derrubar uma árvore."
Hoje, 41% do território brasileiro é ocupado por estabelecimentos agropecuários, que somam 351 milhões de hectares, segundo dados do último Censo. Se houver investimento na tecnologia para integrar as pastagens sem vegetação e nem produção, pelo menos 40 milhões de hectares poderiam ser ganhos, afirma Benites.
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O agronegócio brasileiro tem batido recordes de exportação este ano. Francisco Vidal Luna, professor aposentado da USP, destaca que, apesar da pandemia de Covid-19, o setor foi capaz de abastecer o mercado local e ampliar exportações. "Se não fosse o superávit propiciado pelo agronegócio, teríamos um crônico déficit na balança comercial."
Para Marcos Jank, professor de agronegócio no Insper, o Brasil tem oportunidade de explorar mercados na Ásia, principalmente em frutas tropicais.
"Cheguei a investigar essa possibilidade em Hong Kong e em Singapura, mas havia uma certa dificuldade ligada ao problema de shelf life (validade), porque a gente não consegue fazer aéreo, tem que ser por navio", pontua.
Em setembro, o Brasil fez a primeira exportação de frutas frescas para a China: três toneladas e meia de melão. Embora seja o maior produtor mundial de frutas, o país ainda não conseguiu atingir US$ 1 bilhão na exportação deste tipo de produto.
Para o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Orlando Leite Ribeiro, a diversificação das exportações é uma meta. "De 2019 para 2020, foram abertos 96 novos mercados para o Brasil."
Embora o país esteja registrando safras e exportações recordes, o ministério está apreensivo com o volume de exportações concentradas para a China.
"De tudo o que a gente exporta de produto do agronegócio, 26% é soja para a China. Ao mesmo tempo em que isso nos dá muito orgulho, é um motivo de preocupação", afirma. "Qualquer economista sabe que você não deve botar todos os ovos na mesma cesta", acrescenta.
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